quarta-feira, 2 de junho de 2010

A China do Futuro

Luciano Pires

Alguns conhecidos voltaram da China impressionados.

Um determinado produto que o Brasil fabrica um milhão de unidades,
uma só fábrica chinesa produz quarenta milhões... A qualidade já é
equivalente. E a velocidade de reação é impressionante.

Os chineses colocam qualquer produto no mercado em questão de
horas... Com preços que são uma fração dos praticados aqui. Uma
das fábricas está de mudança para o interior, pois os salários da
região onde está instalada estão altos demais: 100 dólares.


Um operário brasileiro equivalente ganha 400 dólares no mínimo.
Que acrescidos de impostos e benefícios representam quase 800
dólares. Comparados com os 100 dólares dos chineses, que

recebem praticamente zero benefícios...

Hora extra? Na China? Esqueça. O pessoal por lá é tão agradecido

por ter um emprego, que trabalha horas extras sabendo que nada
vai receber...

Essa é a armadilha chinesa. Que não é uma estratégia comercial, mas de
poder.

Os chineses estão tirando proveito da atitude dos marqueteiros
ocidentais, que preferem terceirizar a produção e ficar com o que
"agrega valor": A marca.

Dificilmente você adquire nas grandes redes dos Estados Unidos
um produto feito nos Estados Unidos. É tudo "made in China",
com rótulo estadunidense.

Empresas ganham rios de dinheiro comprando dos chineses por
centavos e vendendo por centenas de dólares... Mesmo ao custo
do fechamento de suas fábricas. É o que chamo de "estratégia preçonhenta".

Enquanto os ocidentais terceirizam as táticas e ganham no curto
prazo, a China assimila as táticas para dominar no longo prazo.

As grandes potências mercadológicas que fiquem com as marcas,
o design... Os chineses ficarão com a produção, desmantelando
aos poucos os parques industriais ocidentais.

Em breve, por exemplo, não haverá mais fábricas de tênis pelo
mundo... Só na China. Que então aumentará seus preços,
produzindo um "choque da manufatura", como foi o do petróleo.

E o mundo perceberá que reerguer suas fábricas terá custo proibitivo.

Perceberá que se tornou refém do dragão que ele mesmo
alimentou ( Vale salientar que o mundo Árabe, é como é, graças
aos petrodólares ). Dragão que aumentará ainda mais os preços,
pois quem manda é ele, que tem fábricas, inventários e empregos...

Uma inversão de jogo que terá o Impacto de uma bomba atômica... Chinesa.

Nesse dia, os executivos "preçonhentos" , tristemente, olharão para
os esqueletos de suas antigas fábricas, para os técnicos aposentados
jogando bocha na esquina, para as sucatas de seus parques fabris
desmontados. E lembrarão com saudades do tempo em que ganharam dinheiro
comprando baratinho dos chineses e vendendo caro a seus conterrâneos. ..

E então, entristecidos, abrirão suas marmitas e almoçarão suas marcas.

(Luciano Pires é diretor de marketing da Dana e profissional de comunicação)